quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Sítio "Domínio Público" permite acesso a grandes obras da literatura e da música


O Governo Federal mantém um portal de nome Domínio Público , este é de responsabilidade do Ministério da Educação e possui acervo de grandes obras tanto da literatura quanto da música e até dos cordéis .

São consideradas obras de domínio público as que foram escritas por autor que morreu há mais de setenta anos ou as que as famílias deram licença para publicação.É possível ler , baixar ou até imprimir as obras.

Entre as obras destacam-se Machado de Assis , Fernando Pessoa ,Joaquim Nabuco e Shakespeare.Seguem dois dos diversos materiais disponíveis em http://www.dominiopublico.gov.br/


O Abolicionismo, de Joaquim Nabuco

Fonte:
NABUCO, Joaquim. O abolicionismo. São Paulo : Publifolha, 2000. (Grandes nomes do
pensamento brasileiro da Folha de São Paulo).
Texto proveniente de:
A Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro
A Escola do Futuro da Universidade de São Paulo



PREFÁCIO


Já existe, felizmente, em nosso país, uma consciência nacional - em formação, é certo
- que vai introduzindo o elemento da dignidade humana em nossa legislação, e para a qual a
escravidão, apesar de hereditária, é uma verdadeira mancha de Caim que o Brasil traz na
fronte. Essa consciência, que está temperando a nossa alma, e há de por fim humanizá-la,
resulta da mistura de duas correntes diversas: o arrependimento dos descendentes de senhores,
e a afinidade de sofrimento dos herdeiros de escravos.
Não tenho, portanto, medo de que o presente volume não encontre o acolhimento que
eu espero por parte de um número bastante considerável de compatriotas meus, a saber: os
que sentem a dor do escravo como se fora própria e, ainda mais, como parte de uma dor maior
- a do Brasil, ultrajado e humilhado; os que têm a altivez de pensar - e a coragem de aceitar as
conseqüências desse pensamento - que a pátria, como a mãe, quando não existe para os filhos
mais infelizes, não existe para os mais dignos; aqueles para quem a escravidão, degradação
sistemática da natureza humana por interesses mercenários e egoístas, se não é infamante para
o homem educado e feliz que a inflige, não pode sê-lo para o ente desfigurado e oprimido que
a sofre; por fim, os que conhecem as influências sobre o nosso país daquela instituição no
passado, e, no presente, o seu custo ruinoso, e prevêem os feitos de sua continuação
indefinida.
Possa ser bem aceita por eles esta lembrança de um correligionário ausente, mandada
do exterior, donde se ama mais a pátria do que no próprio país - pela contingência de não
tornar a vê-la, pelo trabalho constante da imaginação, e pela saudade que Garret nunca teria
pintado ao vivo se não tivesse sentido a nostalgia - e onde o patriotismo, por isso mesmo que
o Brasil é visto como um todo no qual homens e partidos, amigos e adversários se confundem
na superfície alumiada pelo sol dos trópicos, parece mais largo, generoso e tolerante.
Quanto a mim, julgar-me-ei mais do que recompensado, se as sementes de liberdade,
direito e justiça, que estas páginas contêm, derem uma boa colheita no solo ainda virgem da
nova geração; e se este livro concorrer, unindo em uma só legião os abolicionistas brasileiros,
para apressar, ainda que seja de uma hora, o dia em vejamos a independência completada pela
abolição, e o Brasil elevado à dignidade de país livre, como o foi em 1822 à de nação
soberana, perante a América e o mundo.
Joaquim Nabuco
Londres, 8 de abril de 1863




O Pastor Amoroso

Fernando Pessoa



I
Quando eu não te tinha
Amava a Natureza como um monge calmo a Cristo...
Agora amo a Natureza
Como um monge calmo à Virgem Maria,
Religiosamente, a meu modo, como dantes,
Mas de outra maneira mais comovida e próxima.
Vejo melhor os rios quando vou contigo
Pelos campos até à beira dos rios;
Sentado a teu lado reparando nas nuvens
Reparo nelas melhor...
Tu não me tiraste a Natureza...
Tu não me mudaste a Natureza...
Trouxeste-me a Natureza para ao pé de mim.
Por tu existires vejo-a melhor, mas a mesma,
Por tu me amares, amo-a do mesmo modo, mas mais,
Por tu me escolheres para te ter e te amar,
Os meus olhos fitaram-na mais demoradamente
Sobre todas as cousas.
Não me arrependo do que fui outrora
Porque ainda o sou.
Só me arrependo de outrora te não ter amado.

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