quarta-feira, 27 de maio de 2009

Do Vermelho : O que a Coréia quer com a bomba atômica?



A explosão de mais uma bomba atômica pela República Popular Democrática da Coréia, a Coréia do Norte, na segunda feira (24) e o lançamento de três mísseis que podem atacar navios de guerra (principalmente porta-aviões) desencadeou mais um festival da hipocrisia da diplomacia ocidental e da mídia conservadora.


Uma das alegações é a de que a Coréia é campeã de desrespeito às resoluções da ONU, acusação raramente feita a Israel, uma potência nuclear agressiva que, desde 1967, deixa de cumprir as determinações sobre os palestinos e os territórios ocupados, sendo o principal fator de instabilidade e o principal obstáculo à paz no Oriente Médio.


Israel é ponta de lança do imperialismo na região. Daí o tratamento condescendente que recebe. A Coréia, ao contrário, enfrenta o imperialismo. Já foi taxada por Bush de fazer parte do ''eixo do mal''. Mesmo o governo do democrata Bill Clinton fez pressões e impôs sanções contra a Coréia; elas voltaram a ser colocadas na mesa diplomática pelo governo de Barack Obama, que repetiu velhas ameaças.


Tudo isso porque a Coréia recusa as pressões e põe em prática seu direito soberano de preparar-se para as adversidades. O domínio da tecnologia é um direito básico de todas as nações. Usar a tecnologia para fortalecer o país quando existirem ameaças concretas contra sua soberania faz parte dele.


A política de desarmamento das grandes potências não esconde o objetivo de manter inalterada a distribuição de poder no mundo, que é favorável a elas. Assim, qualquer alteração nesse quadro - o surgimento de uma nova potência nuclear - é entendida como uma reformulação contrária aos interesses daqueles que, hoje, dominam a situação mundial. Daí a hipocrisia dessa política, que recomenda para nações militarmente mais fracas um programa de desarmamento que EUA e demais grandes potências não cumprem e não aplicam em seus países.


Contudo, a acusação feita contra a Coréia, de desestabilizar a região, não pode ser desconsiderada. Uma novidade desse porte - a posse de armas nucleares e o desenvolvimento de mísseis para lançá-las contra alvos adversários - tem o efeito de provocar o rearranjo do poder regional.


De um lado, há o direito de todo país melhorar sua capacidade de defesa contra agressões externas. Mas esse reconhecimento não pode deixar de lado o enorme papel que o esforço diplomático pode desempenhar para enfrentar contradições muitas vezes difíceis de resolver. É lamentável, deste ponto de vista, o impasse das importantes negociações de seis partes (Coréia do Norte, Coréia do Sul, China, Japão, Rússia e EUA).


A ameaça de sanções, tomadas por qualquer instância internacional, além de atentar contra a soberania nacional coreana, ajuda a aumentar a tensão e não resolve os problemas. A Coréia do Norte, diz o analista Yan Xuetong, da Universidade Tsinghua, na China, não quer recompensas financeiras (os EUA querem comprar o fim do programa nuclear coreano, diz ele), mas sim o reconhecimento internacional como potência nuclear. Quer um acordo para normalizar suas relações internacionais e a garantia de que não sofrerá ataques contra sua soberania e independência. É uma argumentação a ser levada em conta e que coloca em termos realistas a pauta para a negociação em seis partes.
Do vermelho.org.br

Nenhum comentário: